quinta-feira, 21 de abril de 2011

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Força Modeladora da Natureza

João Fidélis de Campos Filho

O homem moderno se vê diante de muitas situações nas quais é obrigado a fazer escolhas cujos acertos ou erros dependem da avaliação de sua consciência. São muitos os estímulos psicossociais, pois estamos num tempo de grande diversidade material e cultural. A vida tranqüila das gerações de décadas passadas foi substituída pelo ritmo frenético dos acontecimentos que se sucedem e que dão tão pouco tempo ao homem de digeri-los. As frustrações geralmente se originam da natural incapacidade de se realizar todas as aspirações, dos conflitos de relacionamentos e do sentimento de culpa.

Não é por mero fatalismo que muitos filósofos de nossa época redescobriram o pensamento de Demócrito, pois suas idéias funcionam como um antídoto aos males do homem atual, ao mesmo tempo em que combinam com a atmosfera científica e industrial deste século. Este pensador grego percorreu o mundo de sua época em longas viagens até por fim estabelecer-se em Atenas e dedicar seu tempo à contemplação e ao estudo, levando uma vida simples e desprovida das coisas inúteis que os homens comuns costumam julgar “essenciais’

Para Demócrito nossos sentidos são pouco confiáveis e nossas necessidades são guiadas por valores culturais abstratos. ”Se todo o universo é formado de átomos cujas forças estão constantemente interagindo o homem vive apenas das formas com que a matéria se diferencia e de seus efeitos”, ou seja, vive num mundo aparente de causas inacessíveis à sua compreensão. Os átomos e suas reações constituem a verdadeira realidade, afirmava.

Demócrito pregava que a felicidade é algo inconstante e os prazeres sensuais apenas nos oferecem breves satisfações. O ser humano só encontra um contentamento mais duradouro através da paz e serenidade da alma (ataraxia), do bom humor (euthumia) e da moderação (metriotes).

Outro componente da realização pessoal é a chamada “nobreza do homem”, diz o pensador grego. Se os animais cumprem com suas obrigações instintivas (“a aranha a tecer”, as andorinhas a construir, o rouxinol a cantar, etc.,”) a força de caráter é motor que dirige o homem feliz. Por isso Demócrito diz: “As boas ações não devem ser praticadas por obrigação e sim por convicção: não com esperança de recompensa (como erroneamente pregam certas religiões), mas pelo simples amor à bondade”. E arremata: “É mais diante de si próprio do que diante do mundo que o homem deve envergonhar-se de suas más ações”.

Interessante que Demócrito aponta o amor como a maior força modeladora da natureza. Na extremidade oposta o ódio funciona como força desorganizadora. Graças ao amor o homem criou as mais belas obras de arte e tornou a vida mais saudável e com mais bem estar. Segundo Demócrito a evolução e o progresso da humanidade demonstram que o amor prevalece porque o homem não cessa de criar, apesar de todos os conflitos e vicissitudes.

Por não citar Deus em seus escritos e acreditar na ordem natural das coisas, muitos filósofos tendem a pensar que Democrito era ateu. A célebre frase “o todo é algo que jamais foi visto, ouvido ou concebido pelo espírito do homem” é tida como prova de sua incredulidade num governante do universo. No entanto ele nunca se manifestou claramente sobre esta questão. Dizem alguns até que ele era indiferente a isso.

Demócrito viveu 109 anos e muitos de seus amigos construíram sua verdadeira filosofia já que apenas 470 linhas do que escreveu chegou até nós. Contudo seu texto ainda é muito lido e estudado em universidades do mundo todo e é objeto de grandes debates no campo das idéias.

Obs. palavras entre aspas são de Demócrito.

João Fidélis de Campos Filho

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