quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nuances do Destino

                                                               Nuances do Destino
                                       João Fidélis de Campos Filho
        O anuncio de uma nova descoberta ou o invento de algo que melhore a vida e aumente o bem estar causa a impressão de que existe um limite para o aprimoramento material do mundo. Cada vez que nos deparamos com produtos que facilitam o trabalho humano, ou quando se avança alguns centímetros na cura de doenças que dizimavam muitas vidas no passado, temos a falsa ilusão que estamos próximos de uma realidade acabada ou a aproximação de uma suposta perfectibilidade. Por isso a sociedade contemporânea é erroneamente chamada de “moderna”. Hoje pensa-se, graças aos avanços científicos alcançados  pela humanidade, que o ser humano realmente domina as leis que regem o planeta, simplesmente porque o contraste com o passado o estimula a imaginar que é capaz de tudo. Ou quase tudo.  
        Esta falsa impressão sempre existiu na história das civilizações, principalmente quando se inventou algo de grande impacto social e que provocou drásticas mudanças de comportamento. Contudo não existe o “acabado” no mundo, porque tudo que é material passa por mudanças constantes, inclusive o homem, que além das mudanças culturais passou por várias mutações morfológicas.
        Por isso o ser humano é um ser em transição, adaptado á sua condição existencial e sujeito às nuances de seu destino. Destino sim, mesmo que algumas mentes desdenhem esta idéia aparentemente antiquada. Outro dia num debate com alguns materialistas percebi que mesmo que a realidade fosse apenas o resultado do entrechoque de energia material, numa espécie movimento permanente, também este resultado poderia ser classificado como uma forma de destino. Explico: o que os materialistas chamam de aleatoriedade, ou seja, o resultado fortuito de forças em constante conflito é uma forma de destino; de algo que se modificou. Porque tudo que começa tem um destino (um fim, uma história a ser desenrolada segundo um preceito da natureza ou da vontade divina) e isto se aplica também ao homem e a todo ser vivo, só que neste caso há a interferência de uma vontade, de um desejo ou de um instinto.  E se mesmo esta interferência for obra de uma lei já pré-definida desde o inicio do universo triunfam os deterministas. Neste caso nada do que fizermos pode alterar o que está por vir.  
        Se for provado que não existam leis superiores que comandem a ordem do universo e que não exista destino fica inviável a existência de um Criador nos moldes que pregam os religiosos e os filósofos teístas. Porque a partir do segundo que qualquer ser passa existir tem que haver um plano pré-progamado por Deus que inclui o seu futuro e seu tempo de existência. Se Deus não interfere nos acontecimentos fica difícil provar Sua finalidade.
        E onde entra nesta questão o livre-arbítrio, a liberdade do homem? Há neste ponto uma linha de confluência entre os espiritualistas e ateus: se o homem tem realmente uma liberdade de ação ela é restrita e parcial. Além de estar sujeito às circunstâncias de sua condição (do ambiente, sexo, intempéries, etc.) o homem é cerceado pelo seu nível de consciência. Quanto mais consciente de seu mundo, de sua realidade, das forças que regem sua mente e das inclinações de seu psiquismo, maior é a liberdade do homem.  Baseado nisto que Tomás de Aquino retomou a velha teoria aristotélica de que todo homem só tem a liberdade de escolher, o resultado de sua escolha não depende dele, depende de Deus. Ou das forças materiais que regem o universo? Ou do destino?   
João Fidélis de Campos Filho- Cirurgião-Dentista

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sexto Sentido

                        Sexto Sentido
                                        João Fidélis de Campos Filho
Você já pensou em alguém e logo em seguida toca o telefone e é exatamente aquela pessoa em quem você estava pensando? Estava em casa ou em sou local de trabalho de repente vem em sua mente a imagem de uma pessoa e dali a pouco ela aparece e você diz :”estava pensando em você agora há pouco”. Isto é telepatia, fenômeno de transmissão de pensamento, que sempre fez parte da vida humana e que nesta última década vem sendo alvo de inúmeros estudos científicos que procuram comprovar sua veracidade.
Um destes estudos foi realizado nos Laboratórios de Psicofísica de Princeton. Baseado no método do pesquisador Charles Honorton cujo nome é Gansfeld (palavra alemã que significa “campo total”) foram realizadas várias tentativas de transmissão de pensamento e sensações nas quais os índices de acertos foram considerados altos. No experimento Gansfeld há uma pessoa receptora e outra emissora em ambientes separados e várias informações visuais ou sonoras são enviadas da emissora para a receptora.  A pessoa (receptor) deita-se no silêncio de um quarto sombrio em uma cadeira reclinável confortável, com fones de ouvido. Sobre cada olho, meia bola de pingue-pongue. Os fones tocam chiado, considerado um som neutro. E sobre as bolinhas de pingue-pongue é emitida uma luz vermelha, de forma que, se a pessoa abre os olhos, ela só vê uma luz difusa vermelha. Para garantir que a pessoa não pode se comunicar por telefone ou rádio com o exterior, as salas de Ganzfeld são à prova de som e blindadas contra ondas eletromagnéticas. Um computador seleciona aleatoriamente um jogo de quatro imagens de um banco de dados contendo dezenas delas. Dessas quatro imagens, a máquina escolhe uma. Essa imagem é que será transmitida telepaticamente. O teste envolve duas pessoas: o emissor, que fica em uma sala, em frente a um computador, e o receptor, que fica em outra sala, em estado de Ganzfeld. Durante a sessão, o “receptor” descreve em voz alta todas as imagens que sua imaginação produz. Sua descrição é transmitida para o emissor, como estímulo para que ele se concentre na tarefa. Ao final da sessão, que dura 30 minutos, um computador exibe as quatro imagens selecionadas para o receptor. Sua tarefa é dizer qual das imagens mais se assemelha com o que ele imaginou. Se ele indicar a imagem certa, um acerto direto é computado. Todos os testes são gravados, para o caso de alguém querer conferir.
É claro que a ciência precisa de muitas provas para aceitar oficialmente que as pessoas se comunicam quase imperceptivelmente através de um sentido desconhecido e por isso atualmente há muitos estudos em andamento das percepções extra-sensoriais (que são as percepções que não usam nenhum meio físico e nenhum dos cinco sentidos conhecidos). A ciência procura a comprovação da existência de uma força mental ou da alma que explique não só a telepatia como também a premonição, a clarividência, a psicocinese (mover as coisas pela força da mente),etc. São o que hoje são chamados pelos pesquisadores como fenômenos PSI, que é um termo criado para designar a hipótese da conexão lógica entre existente entre mente e mente e entre mente e matéria. A interconectividade pressupõe que o homem seja capaz de interagir com o meio ambiente de maneira direta sem o uso dos sentidos ou qualquer meio físico cientificamente reconhecido.  Espera-se, com o passar dos anos que experiências ricas em detalhes e bem documentadas possam provar esta interconectividade.
João Fidélis de Campos Filho- Cirurgião-Dentista

domingo, 3 de julho de 2011

Literal ou Alegórico?

Literal ou Alegórico?
                                                               João Fidélis de Campos Filho
        Não vejo razão para que uma pessoa destrua uma imagem de Nossa Senhora com o objetivo premeditado de provocar os que professam a fé católica. Isso deve ser coisa de vândalos, estes que costumam depredar os telefones públicos, placas de ruas, jardins, praças, etc. Ou como foi aventado, tenha sido obra de drogados.
        Uns anos atrás um pastor, por motivos religiosos, quebrou uma imagem de Nossa Senhora diante das câmeras da TV, fato que recebeu a reprovação de todo o país, pois agredir um símbolo sagrado de qualquer agremiação religiosa só provoca exacerbação, discórdia e exalta o fanatismo, sendo em última análise um desrespeito desmedido contra os adeptos de qualquer doutrina.
        Estamos acompanhando as repercussões causadas por aquele pastor norte-americano que resolveu queimar o alcorão, que é o livro sagrado dos muçulmanos. Nesta semana morreram mais de 30 pessoas no Paquistão em confrontos com a polícia, que protestavam contra o tal pastor.
        O maior problema é que as pessoas costumam misturar religião com paixão. Perdem o senso crítico e ignoram que a verdadeira transformação coletiva ocorre no campo das idéias e não no sectarismo. No atual momento a maior revolução no campo da metafísica vem ocorrendo nas mentes das novas gerações que estão questionando a consistência lógica destes dogmas doutrinários. As ideologias estacionárias tenderam a perder mais fiéis mais rapidamente. A desilusão vem se tornaram um celeiro de ateus e agnósticos.
        Em um dos seus últimos livros, intitulado “Caim”, José Saramago dissemina uma idéia interessante sobre a maneira como as pessoas usualmente interpretam a Bíblia.  Sabe-se que nos séculos passados a Igreja dissuadia os fiéis de lerem a Bíblia porque, depois de Lutero, avistava cada vez mais deserções.  Não logrou muito êxito visto a exuberância de credos hoje em dia. Mas o que Saramago aponta é o seguinte: quando deve o leitor da Bíblia entender uma passagem dos textos sagrados como literal ou como alegórico? . Isto porque em várias passagens a Bíblia é tomada ao pé da letra, em outras recebe uma interpretação subjetiva ou alegórica que nem mesmo os “doutos” no assunto conseguem se entender. A BBC distribuiu vinte passagens da Bíblia para cem especialistas (ou teólogos) interpretar e o índice de concordância foi de apenas 10%.
        Saramago chegou à conclusão que a interpretação literal ou alegórica é de acordo com as conveniências ou os interesses. Não existe regra alguma. Como há uma panacéia histórico-lendária/lendária/literária/moral que cada um tire o alimento que satisfaça sua alma.
        Dizem que certa vez Buda andava por um lugarejo quando foi abordado por um homem aflito que lhe disse: “não consigo entender sua filosofia, suas palavras não entram em minha mente”. O iluminado se voltou para ele e falou: “esqueça tudo o que eu preguei e seja honesto em todas as suas ações”. A vida é muito simples, basta procurar o bem.
João Fidélis de Campos Filho –Cirurgião-Dentista

Ansiedade e Depressão

Ansiedade e Depressão
                                       João Fidélis de Campos Filho
Sempre achei muito intrigante a Teoria das Idéias de Platão. È muito comum se perguntar como um pensador que viveu há quase três mil anos atrás exerce tanto influência até hoje com teses tão revolucionárias?
        Segundo Platão há dois mundos que coexistem, um chamado o “Mundo das Idéias”, que é simplesmente o extrato da realidade que se desenrola, onde as idéias das coisas são puras e perfeitas e o Mundo sensível que seria o mundo que é apreendido pelos sentidos dos homens que é cheio de imperfeições. È claro que existem os conceitos universais e inalteráveis como, por exemplo: o homem é um ser mortal. Mas a partir do conceito básico homem há inúmeras variações fisiológicas, intelectuais e culturais. De acordo com estas variações a apreensão da realidade é muito diferente de individuo para individuo. E ai chega num ponto crucial, que é na verdade o tema da matéria deste domingo que é a expectativa de cada um em relação ao mundo e suas conseqüências.
        Pensamos que a maior inquietação humana nasce da freqüente criação de suas necessidades, que podem ser realmente imprescindíveis, como a cura de uma doença ou saciar uma fome, como não tão urgentes como, por exemplo, comprar um carro novo, uma televisão LED, ou fazer um tour pela Europa. A questão toda se resume na criação dos anseios e na presumível frustração de não realizá-los. O grande nó górdio do homem moderno está na enorme quantidade de “necessidades” que o mundo atual cria incansavelmente através da propaganda e da indução ao consumo e a incapacidade das pessoas de alcançá-las. No fundo são as descargas emocionais, os conflitos íntimos que atuam às vezes de maneira inconsciente, que produzem muitas das doenças e abreviam a existência de milhares de seres humanos.
        Construir objetivos é a mola propulsora da realidade humana, contudo o problema está na dosagem e no bom senso em lidar com estes objetivos, pois a descarga hormonal destes anseios pode provocar distúrbios irreversíveis no metabolismo humano. A ansiedade gerada a partir das múltiplas informações atuais é também um dos grandes males desta atual geração. A chamada geração da depressão, porque muito da insatisfação consumista de hoje gera angustia e depressão.
        No afã de acumular bens materiais muitos não se dão conta da brevidade da vida e o quanto se perde com coisas pueris e sentimentos inúteis. Se viver é um estado de espírito e como bem salientou Platão o homem é quem deturpa vilmente a realidade atendendo á sua vaidade e ganância, aquele que não atrai para si múltiplos compromissos, prezando uma vida simples e mentalmente saudável tende naturalmente a viver mais.
João Fidélis de Campos Filho- Cirurgião-Dentista
jofideli@gmail.com