quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Novo Mínimo

Novo Mínimo
                                                            João Fidelis de Campos Filho
       Ainda não é carnaval, mas o clima já é de festa e folia, pois parece que o país está parado se “guardando pra quando o carnaval chegar” (Chico Buarque). Quase tudo é postergado para depois do carnaval, como se houvesse uma ponte necessária a ser transporta até que as coisas voltem realmente a se engrenar neste país. O ano letivo começa para valer após a folia de Momo, muitos cursos de especialização, eventos importantes, inaugurações de obras, etc., muita coisa segue o calendário anual pós-carnaval.
       Nossos deputados, depois de todo este “esforço” para votar o novo salário mínino dão uma paradinha (afinal ninguém é de ferro) e vão curtir seu “merecido” descanso de carnaval. Calcula-se que este aumento de 35,00 tenha custado caro ao país nestas negociações dos bastidores. Contudo o salário mínimo é uma mera referência para pagamento de aposentados e para o salário de prefeituras do nordeste. Pouca gente sobrevive com um salário destes com esta galopante inflação e as empresas privadas estão bem cientes disso. E um empregado com uma melhor remuneração produz bem mais e dá mais lucro. O governo sempre se mostra ávido para taxar os lucros da classe produtiva, com impostos elevados, no entanto paga uma míngua para o trabalhador aposentado que contribuiu com seu suor por longos 30 ou 35 anos.
       A tabela do Sistema Único de Saúde é, no português mais direto, uma exploração aos profissionais da saúde. Coisa de quarto mundo. Por isso as santas casas estão sempre deficitárias e precisando de socorro para não fechar. Criar mais impostos, tal qual a famigerada CPMF, é tapar o sol com a peneira. Valeria apenas como formula de unificar impostos e distribuir renda se fosse aplicada corretamente. Teriam que suprimir vários impostos em cascata e criar a CPMF, ou um imposto sobre as movimentações comerciais, que taxando as operações bancárias ou comerciais, como é feito em vários lugares do mundo, traria resultados bem mais justos e racionais.
       Os congressistas foram rápidos na votação de seus salários. Concederam a si próprios um generoso aumento que veio a somar aos muitos benefícios da carreira parlamentar. A máquina pública custa cada vez mais neste país onde os maiores salários são pagos pelos traficantes de drogas. Como subir socialmente ganhando esta merreca que a maioria do povo recebe no fim do mês?
       Para piorar a imprensa divulgou nos últimos dias que o Brasil é um dos países com maior dinheiro depositado nos bancos suíços. Ganha de nações como a China, Índia, etc. Segundo os cálculos dos bancos suíços há mais de 6 bilhões de dólares desviados por brasileiros para as praças financeiras daquele paraíso fiscal. Mas de acordo com os prognósticos extra-oficiais este montante pode ultrapassar os 50 bilhões de dólares. A reportagem diz que nos últimos anos (que coincide com os últimos mandatos), as remessas das terras tupiniquins aumentaram muito. Isso demonstra que as políticas de fiscalização a doleiros no Brasil tem se mostrado ineficazes.
       Não por acaso há um projeto de legalização desta grana toda que poderia retornar sob certas condições ao Brasil. Seria uma forma de atenuar o problema. Contudo este é mais uma explicação para a péssima distribuição de renda em nosso país e o salário mínimo seja tão mínimo.
João Fidélis de Campos Filho –cirurgiã0-dentista
           

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vamos Melhorar Este País?

Vamos Melhorar Este País?
                                                      João Fidélis de Campos Filho
             O povo exige mais liberdade nos países árabes. Saem às ruas protestam e arriscam suas vidas porque estão despertando deste sono dogmático/teocrático. Parece que a tirania está ficando fora de moda e as pessoas mais conscientes de seus direitos civis. Até quando estes regimes opressores e corruptos vão se sustentar? Esta é a pergunta que a mídia internacional vem se fazendo ultimamente. Irã, Cuba, Coréia do Norte, Líbia, etc., se tornaram nações destoantes da ordem econômica e social do mundo moderno e numa comunidade globalizada (e conseqüentemente mais informada) tendem a sofrer crescentes pressões por um regime mais pluralista e democrático.
             Um detalhe importante: a maioria dos manifestantes que derrubaram os governos na Tunísia e no Egito era constituída de jovens. Jovens de uma geração mais atenta ao que ocorre no planeta e que almejam banir os privilégios destes ditadores, como Hosni Mubarak, do Egito, que tinha uma grande fortuna depositada na Suíça.
             Mas vamos falar do Brasil, que elegeu novamente José Sarney para a presidência do Senado. Onde os réus do mensalão ocupam cargos importantes no atual governo e cuja classe política está totalmente desacreditada perante a opinião pública.  No caso brasileiro a participação política dos jovens tem sido muito tímida. Culpa os críticos a baixa escolaridade: de 32 milhões que matriculam no ensino médio apenas dois milhões concluem o ensino superior, mas será que é só este fator?
             Culturalmente o povo brasileiro é pacato, pouco reclama de seus direitos e aceita passivamente que seus representantes usem o poder para o enriquecimento. Isto é tão antigo (vem da época do Brasil – colônia) e parece que se tornou uma coisa tradicional ou um vício que o país não consegue se livrar. Todos sabem que a política abre muitas portas para a fortuna e associa a imagem do político como a de um padrinho que está sempre distribuindo presentes em troca de fidelidade. Parece que o povo até se acostumou a este sistema e perdeu a consciência cívica e o patriotismo. Aceita os pequenos favores como se fosse esta a ordem natural das coisas.
             Normalmente muitos políticos conseguem também resolver com facilidade seus problemas jurídicos, escapando-se da severidade da justiça (que nestes casos é até muito benevolente), pelo menos enquanto estão no poder. Tudo se arranja em se tratando de compadres, até a impunidade.
             Talvez nem fosse necessário pressões populares como as que estão ocorrendo nestes regimes totalitários, mas o brasileiro precisa aprender a cobrar mais de toda a classe política, precisa protestar mais, se organizar mais e lutar mais por seus direitos constitucionais. Isto faz parte do conceito de cidadania e de ética. Inclusão social, direitos das minorias, meio-ambiente, aperfeiçoamento das leis, combate à pobreza e diminuição das desigualdades, tudo isso faz parte dos princípios da ética moderna e tem que fazer parte da cartilha de reivindicação de todo o brasileiro e em especial a classe estudantil (por onde anda a UNE, que fez história contra a ditadura, e que parece se mancomunou com o governo atual?).
             Dizem que o jovem brasileiro está por demais alienado. Bem distante da realidade do país que necessita de mudanças urgentes em suas instituições decadentes. A sociedade brasileira precisa entrar para o rol do primeiro mundo não somente pela via econômica, mas principalmente pela via cultural. Aprimorando seus costumes, seus hábitos e comportamento. Jovens, vamos melhorar este país?
João Fidélis de Campos Filho- Cirurgião-Dentista
jofideli.blogspot.com    

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Novos Pecados Capitais

Novos Pecados Capitais
                                                                       João Fidélis de Campos Filho
                                      “O homem feliz é o que não tem passado. O maior dos castigos, para o qual só há pior no inferno é a gente recordar” (Rachel de Queiroz)
       
        Não há dúvida que as pessoas que conseguem livrar-se dos erros, fracassos e decepções da vida pregressa vivem mais, pois abortam uma série de doenças psicossomáticas. Se as doenças têm inicio na mente, aqueles que lidam com mais facilidade com os conflitos internos naturalmente constroem uma blindagem contra a maioria delas. Entretanto os indivíduos que tem facilidade para guardar ressentimentos e possuem um elevado nível de vaidade teoricamente estão mais sujeitos a metabolizar estes sentimentos no futuro através de alguma forma de dor. E esta dor acaba vindo de alguma maneira. Nietzsche afirmava que “a memória do ressentido é uma digestão que não termina”. Quem guarda mágoas de alguém tem sempre uma causa mal resolvida a ser sanada e sua realização é se ver vingado pelos acontecimentos futuros. O maior problema do ressentido é que ele invariavelmente acredita que sua infelicidade presente é culpa de outra pessoa, ou de outras pessoas. E alimenta diariamente este sentimento. Mas o pior tipo de ressentido é o que atribui constantemente aos outros a causa de seus erros. “O inferno são os outros”, diz o ditado. O ressentido não sabe amar e não quer amar, mas quer ser amado. Mais que amado, quer ser alimentado, acariciado, acalentado, saciado. Não amar o ressentido é prova de maldade para ele.

        Mas hoje em dia, tão ruim como a mágoa o sentimento de culpa é visto como o oitavo pecado capital. Desde os primórdios o homem cultiva uma culpa que usualmente ceifa muitas das suas possibilidades de realização como ser porque sacrifica o presente em função de um futuro incerto. Voltando ao filosofo alemão Friedrich Nietsche as religiões empurram o ser humano para niilismo contraditoriamente, pois lhe incutem uma culpa perpetua pelos pecados e o transforma refém de um suposto paraíso ou inferno. Numa brilhante passagem do seu livro “Operação Cavalo de Tróia”, o escritor espanhol J.J Benitez diz: “Na realidade, creio que nenhuma igreja tem futuro, por um motivo: elas são meras etapas na vida dos seres humanos. Por milhares de anos a humanidade adorou o raio, sol, a lua, e isso passou. Agora estamos na etapa do dogma, em que as igrejas oferecem a salvação eterna, mas isso também vai passar. Um dia o homem chegará ao sagrado por si mesmo. Será o lindo experimento da busca pessoal”.
        Já há outros que pensam que o oitavo pecado capital, além da luxúria, gula, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja, definidos pelo papa Gregório I, é a idolatria. O homem se acostumou a criar heróis e santos para suprir suas deficiências e, longe do aspecto sadio de enxergá-los apenas como exemplos a serem perseguidos os vêem como seres com poderes sobrenaturais. A sociedade moderna não se desvencilhou ainda dos falsos deuses por isso continua a mitificá-los de maneira errônea e supersticiosa. Aproveitando-se disso surgem falsos pastores a guiá-los nesta direção diariamente. Tornou-se um negocio lucrativo, pois a religiosidade é parte da natureza humana e é fácil despertá-la com promessas vis.
        Há também quem pense que o oitavo pecado capital é a corrupção. E se for verdade é um dos pecados mais praticados na atualidade, porque está inserido na vida pública de todas as nações do planeta em maior ou menor intensidade dependendo do nível cultural da população. O Brasil infelizmente ocupa posição de destaque entre os países mais corruptos e a ascensão a um cargo público quase sempre está associado ao enriquecimento ilícito. Há muitas cidades na Alemanha em que o prefeito e os vereadores recebem salários simbólicos ou nenhum salário, pois é um prestigio para eles servir à comunidade a que pertencem.
        Dizem alguns que a mentira ocupa posição de destaque entre os pecados humanos portanto seria o oitavo pecado esquecido por Gregório I. A mentira está associada à traição e quem se sente enganado pela inverdade propalada por outrem sempre contabiliza dissabores ou prejuízos materiais. A mentira gera a desconfiança e abala a credibilidade das instituições que dela se utilizam para atingir seus fins. Mentir é um vício perigoso e quem se habitua a ele constrói para si um mundo irreal. E passa a viver neste mundo ficcional como principal artífice. Dessa forma a mentira pode ser também considerada como mais um pecado capital.
        Nesta época que se fala tanto em consumismo o individuo perdulário também pode ser considerado mais um pecador? O perdulário causa muitos prejuízos a si, aos que o rodeiam e às vezes aos que nele confiam. Gastar mais do que se tem é como se apropriar do trabalho alheio sendo dessa forma mais um pecado que poderia ser adicionado aos já existentes.
        Pelo exposto a lista de pecados capitais precisa ser atualizada. Poderiam ser incluídos muitos crimes praticados pelo homem contra seu semelhante e que ocupam os inquéritos policias. Não se esquecendo dos modernos crimes cibernéticos, como disseminar vírus e retirar dinheiro de correntistas de bancos. Sendo assim o pecado está mais ligado à escolha (bem ou mal) do que propriamente ao ato. Escolher o mal seria sempre o pecado não importando se seria o oitavo ou o décimo terceiro pecado capital... A propósito a fofoca não é mais um dos pecados capitais?
João Fidelis de Campos Filho- cirurgião-dentista.