Controle das Emoções
João
Fidélis
O leitor deve ter notado
que existem milhares de definições de vida, umas simples outras mais profundas,
contudo hoje vou utilizar uma que particularmente tenho muita afinidade: vida é
tudo aquilo que nos desperta os bons sentimentos guardados na alma. Esta
definição esconde alguns princípios que podem passar despercebidos a uma
análise menos acurada, mas que tentarei explicitar.
Este contato que temos com o mundo, esta interação com as
pessoas com que convivemos, provoca reações agradáveis ou desagradáveis em
nossa mente, justamente porque a cada momento elas nos atingem e, atualmente,
com mais intensidade, quantidade e multiplicidade de variantes. Ampliou-se
muito nos tempos modernos os interesses e os focos de atenção da civilização
atual, e a tal integração mundial obriga as pessoas a estarem conectadas para
estarem inseridas socialmente. Por isso é sempre prudente reduzir, ou de certa
forma selecionar as influências que se recebe das pessoas e do mundo, porque o
stress ou as emoções mal digeridas causam prejuízos não só à mente, mas também ao
corpo.
Tem gente que confunde este escudo que deveríamos criar para
nos livrar das más influências com a insensibilidade. Isto é uma inverdade. “Livrai-vos
do mal que eu o ajudarei”, não é este um bom preceito cristão? Quando as
pessoas imaginam ou criam muitas pré-condições para seu bem estar, ou então
cruzam as fronteiras das perigosas tentações terrenas, ou mesmo quando
desesperam diante dos infortúnios que surgem por obra do acaso ou dos desígnios
divinos, elas mesmo que inconscientemente, acabam construindo barreiras à sua
liberdade como ser do mundo. Tornam-se prisioneiras de si mesma e reféns do
sistema, que lhes retira a individualidade natural. E isto é difícil de ser
evitado.
Grosso
modo só os que têm pacto com as forças da natureza, os videntes, ou os que
pensam que Deus tem um plano definido para cada ser humano, têm uma visão mais
especulativa ou têm teorias místicas para explicar a sorte ou condição de cada
um. Felizmente nestes dois últimos séculos o conhecimento tem seguido uma
trajetória totalmente realista e desmistificadora. O resurgimento do
existencialismo, a título de exemplo, foi como um acordar de um mundo que
aprendeu a desconfiar destas doutrinas fabricadas para dominar as mentes.
Pelo
que foi demonstrado não é fácil “despertar os bons sentimentos da alma”, pois
esta definição de viver depreende também não se deixar conduzir pelas falsas
ideologias que ainda dominam os corações e mentes. No entanto tendo-se a
convicção que a humanidade segue seu curso a nível coletivo, devemos crer que
existe uma necessidade no espaço e no tempo que faz com as coisas que acontecem
exatamente como são. Parece até um raciocínio determinista, mas ao mesmo tempo isto
é um consolo para os crentes e os não crentes; o mundo avança e somos
coadjuvantes de um processo que ninguém sabe como começou ou quando vai acabar,
ou se teve realmente um começo ou se
terá um final.
Assim
deveríamos trabalhar mais nossa mente para viver as boas emoções que a vida
oferece, evitando sem amarras doutrinarias tudo o que for pernicioso ou faça
eclodir emoções negativas. Nossa vida são estes pequenos momentos, estes
prazeres efêmeros (que jamais aceitamos que o sejam porque nosso inconsciente é
vigilante) e que se tornam apenas páginas esquecidas em nossa memória. Pode
parecer realista demais, mas é o que mais se aproxima da verdade. Geneticamente
nenhum ser vivo foi feito para aceitar passivamente a finitude.
jofideli@hotmail.com